Por Ana Vecchi - Jornal Estadão.
Ainda que pensando em omnichannel (múltiplos canais) na expansão dos negócios, integrando todos os possíveis canais de comunicação, o offline e o online, com o forte objetivo de promover uma excelente experiência do cliente, vivemos há algum tempo a convergência do virtual e do físico.
O varejo físico não vai morrer, como previam os gurus da época em que surgiram os filmes em fitas VHS, depois as seladas (originais das distribuidoras), substituídas pelo DVD, blu-ray, todos oferecidos aos clientes pelas videolocadoras, que matariam os cinemas! O raciocínio da época: quem iria ao cinema já que, pelo valor de locação de um filme, a família toda poderia assistir, no conforto de casa, com a pipoca fresquinha, refrigerante e cerveja recém-tirados da geladeira, quantas vezes quisesse o mesmo filme? O cinema estava ameaçado de morte pelas redes franqueadas de videolocadoras.
Nos anos 2000, a Blockbuster atingiu o marco de mais de 7.500 videolocadoras franqueadas abertas. No paralelo, nascia a Netflix que, hoje, dispensa explicações e as salas de cinema só não continuam lotadas, nos horários mais disputados, por conta da pandemia.
O auge das locadoras se deu em um grande momento de mudança de tecnologia, do analógico para o digital. O omnicanalidade vem vindo há anos, não é novidade e não era tão fácil como gostariam os gestores de marcas franqueadas, nacionais e internacionais, mas foi acelerada pelo mesmo motivo pelo qual os cinemas estão fechados.
Tudo tem um lado bom e outro nem tão bom assim. Este histórico serve de base para entendermos que o varejo físico não morrerá, mudará a forma de atuar, de lidar com clientes e pode mudar de endereço por questão de estratégia, custos, resultados e até posicionamento.
As ruas eram o centro da atenção de lojistas, estudos sobre geolocalização de PDV, quantas pessoas passam na frente e viram as cabeças para direita ou esquerda, vagas de estacionamento por número de clientes projetado/dia. Vieram as alamedas, as galerias, os malls, os shopping centers. E as marcas evoluindo, neste processo. Junto. E os custos aumentando conforme os corredores de shopping centers passavam a ser sonho de posicionamento e visibilidade da marca. Status também.
Pandemia do novo coronavírus, economia, share of wallet, novo normal, consumo consciente, sustentabilidade, poder de consumo, home office, desapego, isolamento social, e-commerce, novos valores, ressignificar, comportamento modificado: quem vai pagar esta conta?
Vários franqueadores têm se mostrado mais focados em expansão com lojas de rua, por meio dos estudos geomercadológicos necessários, mas não apenas porque fica mais barato que shopping e as negociações nãos se mostram sustentáveis. A construção e a visibilidade de uma marca se faz na rua, muito mais gente vê e tem curiosidade de conhecer ou de consumir porque está no caminho, é atrativa, se comunica diariamente com que passa à frente dela no caminho do trabalho ou de casa. Faz parte de um contexto maior que o corredor do shopping center.
Então, para quem vem escolhendo investir em franquia, não se sinta menos prestigiado porque sua franquia estará em um endereço de bairro e não de corredor de shopping. Uma boa franqueadora quer o melhor para sua marca e sua rede, financeira e emocionalmente. Adeus status! A moda vai e volta, né? E a gente aceita que seja assim. A rua voltou a ser objeto de desejo para o comércio. E é justo que seja.
Posso fazer mais um flashback? Já existiu disco de vinil, que foi temporariamente substituído pelos CDs. Parecia que apenas os colecionadores tinham ficado com os seus e continuaram comprando em sebos. O vinil voltou valorizado com vitrolas retrô, repaginadas ou o adjetivo que você preferir.
Não sabe do que estou falando? Dê um google aí e você vai ver o que já perdeu de coisa interessante nesta vida. E eu vou continuar evoluindo com você, ok, meu jovem?!
Ana Vecchi - Founder at Ana Vecchi Business Consulting
Artigo publicado originalmente no site do jornal Estadão
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