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Um Senhor Estagiário

Por Mauricio Salkini.



“Não só no Brasil, mas no mundo todo vem se observando essa tendência de envelhecimento da população nos últimos anos. Ela decorre tanto do aumento da expectativa de vida pela melhoria nas condições de saúde quanto pela questão da taxa de fecundidade, pois o número médio de filhos por mulher vem caindo. Esse é um fenômeno mundial, não só no Brasil”, Maria Lúcia Vieira gerente da PNAD Contínua / IBGE

Recebi um desafio. Aconteceu no Clube Empreendedor Brasil , durante a gravação do Podcast, ClubeCast Franquias, https://youtu.be/BGhJjj-KrWc , onde ocorreu o lançamento do livro “As melhores práticas de gestão com pessoas” (organizado pela ABRH-RJ, 2022). Vencedor do Prêmio Ser Humano, meu projeto “Primeiro Trabalho Decente – formando jovens, transformando futuros” ganhou um capítulo desse livro.



Resumidamente, tratou-se do seguinte: contratávamos candidatos com experiência. Contudo, essa bagagem que eles traziam era, geralmente, ruim e, portanto, isso se refletia em mau atendimento. Então, em 2021, criei o projeto que deu o nome ao capítulo, explicando por que era mais interessante para as empresas agregarem os jovens ainda sem experiência profissional. Durante esse bate-papo no podcast, cujos jovens sem experiência foram o assunto principal, surgiu a questão sobre o lugar dos profissionais mais velhos no mercado.


Em companhia da convidada Adriana Lima, diretora de operações do Rei do Mate ( https://youtu.be/BGhJjj-KrWc ), e do Rafael Ponzi Ribeiro , eles me lançaram o desafio: dar uma solução ao mercado para inclusão das pessoas maduras e excluídas de oportunidades de trabalho.


A questão era principalmente para indivíduos que passaram dos 40 anos, vulneráveis economicamente e sem a conclusão do ensino médio. Ou seja, além do preconceito da idade, eles sofrem com a baixa escolaridade, que os eliminam também dos cursos de qualificação, do Sistema S, por exemplo.


Etarismo: O preconceito contra você mesmo no futuro. Cris Paz

Esse grupo dos que viveram mais de quatro décadas encontra-se, majoritariamente, em situação de desemprego. O fato das pessoas desse grupo serem enormemente prejudicadas dá-se, é claro, porque o desemprego é uma realidade no mundo, com números piores no Brasil. E, em especial, pela relação de desqualificação preconceituosa, que carimba dificuldades excludentes a eles.


A gravidade social aumenta se pensarmos que os “quarentões” chegaram – somente – à metade da expectativa de vida do brasileiro. Além disso, a população brasileira manteve a tendência de envelhecimento dos últimos anos e ganhou 4,8 milhões de idosos desde 2012, superando a marca dos 30,2 milhões em 2017”, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Características dos Moradores e Domicílios, divulgada pelo IBGE.


Muitas dentre as causas excludentes são reais pela falta de estudo, de formação específica e pela substituição da mão de obra pela tecnologia. O desencontro eleva-se ainda, pois o varejo, grande empregador, é visto socialmente apenas como contratante de jovens. Assim, mesmo as franquias e os varejistas que desejam pessoas com mais idade, em geral, encontram grandes dificuldades de achar candidatos às vagas disponíveis.


Sim, temos vagas abertas, apesar do avanço tecnológico. Existem trabalhos esperando os candidatos adequados para desempenharem bem suas funções. Acrescento que não há um nível de atendimento, de serviço para o cliente, que nos traga, enquanto empresários, tranquilidade e nos retire do problema dos 40+. O desafio de atender bem para os consumidores não foi superado pelo varejo.


Os jovens que o mercado contrata, pedindo experiência para o primeiro escalão, para as tarefas mais simples, rapidamente perdem o encanto pela novidade e pela função a eles ofertada. Alguns empreendedores pensam que foram enganados no período de experiência – 90 dias –, outros entendem que é uma questão geracional e sua relação com o mundo formal do trabalho.


Concordo com todas essas teses, residindo em mim o desejo de buscar novos caminhos, construir relações diferenciadas e estabelecer paradigmas inclusivos. Nesse sentido, cito a Antonieta Menezes, vendedora da franquia da Kopenhagen São Francisco, com mais de 10 anos de admitida, que foi selecionada e recrutada por mim, em um grupo formativo para a maturidade, chamavam de “Qualificação para a melhor idade”.


A “Antu” me prova e comprova que a maturidade e a experiência, trazida apenas pelo passar da idade, são fatores de equilíbrio em datas tensas – Natal e Páscoa – e podem acrescentar humor ao cotidiano. Não foram raros os dias, no final do expediente exaustivo, com a loja fechada, em que os risos ecoavam, revelando uma alegria que restaurava toda a energia ao redor. Um salve à Antonieta Menezes!


O livro lançado e motivo do episódio do ClubeCast entrega detalhes do Projeto Primeiro Trabalho Decente: formando jovens e transformando futuros – deles e das empresas. Escrevo no livro os benefícios da contratação da juventude, que o mercado chama de “sem experiência”. Discordo deste rótulo, porque, estar vivo no Rio de Janeiro, demanda sabedoria e habilidade muito grandes. Afinal, experiência de vida conta muito no dia a dia profissional.


O encontro do Trabalho Decente, conceito da OIT Brasil (Organização Internacional do Trabalho) com o Franchising Varejista foi vencedor do Prêmio Ser Humano, da Associação Brasileira de Recursos Humanos, que me encanta pelo nome SER HUMANO e por ter colocado no palco, com apresentação do Vinícius Dônola , (que honra!), uma oportunidade à juventude, de maneira produtiva/lucrativa para todos os envolvidos: jovens trabalhadores, franqueados, franqueadoras, clientes e sociedade.




O que seria um episódio de podcast comemorativo de lançamento de livro se tornou um desafio, na pergunta da diretora Lima: “Maurício, o que farás com os trabalhadores 40+? ”

Seja bem-vindo às reflexões desse dia até fevereiro de 2023:




PROJETO UM SENHOR ESTAGIÁRIO

Trabalho Decente - Formalizado pela OIT sintetiza a missão histórica de promover oportunidades para que homens e mulheres obtenham um trabalho produtivo e de qualidade, em condições de liberdade, equidade, segurança e dignidade humanas, considerado condição fundamental para a superação da pobreza, a redução das desigualdades sociais e o desenvolvimento sustentável.

O nome do projeto veio a partir do filme “Um Senhor estagiário”, que teve produção e roteiro de Nancy Meyers e contou com a atuação de Robert De Niro no papel de protagonista (o estagiário). A história acompanha Ben (De Niro), um homem de 70 anos em uma vida monótona. Quando uma empresa jovem inicia um projeto de contratar idosos,


Ben enxerga nessa oportunidade de estágio uma maneira de se reinventar.

No confluir de ideias na construção desse projeto, também me senti inspirado por meio da Teoria dos Três As (Araújo, 2015), em especial quando diz “havendo Acolhimento e Aceitação, haverá Aprendizagem”. E ainda:

Mesmo em casos de limitações. Aqui afirmamos: todos podem! Cada um dentro de suas possibilidades e seu tempo. Apostamos na diversidade das formas de existir, coexistir e aprender. Com Boaventura acreditamos ser todo conhecimento autoconhecimento, autoconhecimento e, por isso, apostamos também na autoformação e autocompreensão.


Dessa forma, eis o projeto:

Quem: Estudantes do EJA a partir de 40 anos, residentes preferencialmente nas cidades do Rio de Janeiro e de Niterói.


Origem: Inicialmente do EJA – Educação de Jovens e Adultos de escolas públicas nos municípios das lojas, Niterói e Rio de Janeiro.


Quantidade inicial: Um experiente 40+ por turno em cada loja.

Inicialmente serão 7 vagas disponíveis.


Objetivos empresariais:

· Economia de Vale Transporte e tempo de deslocamento para o trabalho por residirem na mesma cidade da loja;

· Maturidade para o time com a diversidade do encontro entre os projetos Primeiro Trabalho Decente e Um Senhor Estagiário;

· Atendimento ao S da pauta ESG.



Objetivos Sociais:

· Vagas de Trabalho Decente para pessoas maduras e estudantes do EJA;

· Valorização da retomada acadêmica e da escola pública;

· Apresentação da parceria entre os “sem experiência” com os “maduros, mais experientes” como solução para melhoria do atendimento nas franquias.


Formação para o trabalho:

Os aprovados receberão formação, com a metodologia do Treinamento Cult e conteúdos do CIEE para facilitar a (re)adaptação ao mercado de trabalho.

Quem não for aprovado na seleção, terá apoio em sua jornada na procura de vagas com cursos que ensinem: cadastramento do currículo; orientação profissional, com dicas de entrevista e de como elaborar um bom currículo; busca de vagas interessantes. Além de: cursos do CIEE Saber Virtual; curso de Marketing Digital em parceria com a Google.


Parceiros convidados: CIEE, franqueadora, espaços culturais, Secretarias Municipais de Educação e escolas municipais que tenham EJA.






MAURICIO SALKINI é administrador e empreendedor, com experiência em franquias: Bobs, Kopenhagen e Rei do Mate. Implantou negócios no franchising, localizados em shopping, supermercado, rua e estação de transportes – barcas, trem e metrô. Vencedor dos Prêmios “Ser Humano” ABRH-RJ: Treinamento Cult (2019) e Primeiro Trabalho Decente (2021). Reconhecido (2022) pelo Selo Diversidade/ Prefeitura de Niterói, na área de Direitos Humanos. Colunista semanal do jornal Tribuna da Imprensa Livre. https://linktr.ee/msalkini

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